domingo, 5 de agosto de 2018

Reflexões sobre religião, finitude, vida eterna, deus, inferno, paraíso, etc


Esse texto não tem a intenção de convencer ninguém. É apenas a síntese do meu pensamento a respeito do tema.

Quando minha vó faleceu há muito tempo, um questionamento brotou em minha cabeça.
Ela era carola de igreja, estava sempre envolvida com as atividades, prestava serviços, levava comida nas feiras e quermesses. Ia na missa religiosamente.
Mas já fazia muitos anos que seu cérebro estava virado do avesso, não dizia coisa com coisa, caduca como popularmente se chama. Mas isso não foi repentino, foi um processo de degeneração do pensamento muito lento. Aí pensei: ela era quase santa, então tem um lugar no céu pra ela. Mas ela não pode ficar caduca pela eternidade, não é? Então vai voltar a ser normal. Mas espera aí... normal quanto? Vai voltar a ser como era a 5 anos ou 10 anos, 11, 12, com 50 anos de idade talvez...

Então outra pergunta surgiu, uma hipotética que fiz a mim mesmo: Não tendo certeza que existe vida após a morte, seria sensato supor que se alguém me oferecesse para voltar minha idade alguns anos, seria ótimo, não?  E se essa oferta fosse de voltar a ser um bebê, esquecendo tudo, nascendo de novo, eu toparia? Zerar o pensamento, nascer de novo, eu ia querer isso? Abdicar do resto de minha vida em compensação poderia ter muito mais VIDA, eu toparia? Você toparia?

Isso seria bom pra mim? Seria uma escolha válida?
Ainda seria eu?
Quem sou eu?
O que sou eu?
O que me define?
Se eu nascer de novo, serei a mesma pessoa?
É importante pra mim nascer de novo como uma nova pessoa?

A resposta se tornou irrelevante.
Esse insight brotou em minha cabeça de forma avassaladora, a resposta não importava, eu não me importava, só me interessa me preservar como sou e nem disso tenho certeza, pois vamos ficando cansados de muitas coisas, sem saco, calejados.
Nascer de novo como outro ser não me interessa também. Não seria mais eu, seria outra pessoa, afinal sou produto das minhas experiências, emoções vividas, histórico...

Mas e que tal renascer no paraíso cristão, onde nada de mal acontece?
Deve ser um tédio, não?
Não há riscos, não há possibilidade de fracasso, não há desafios?
Como um jogo em que é sempre fácil de ganhar, que graça há nisso?

Mas então as religiões estão todas erradas?
Por que existem? São tantas, tantas divindades, quem está certo? Cristo, Buda, Maomé ou algum dos outros milhares de deuses, santos, divindades...?

Culturalmente somos cristãos, mas se nascêssemos em outro lugar nossas convicções e fé seriam outras ...
Então é só cultura? Por que? Pra quê? Gastarmos energia, tempo, dinheiro, abdicarmos do que queremos porque achamos que temos de ficar bem na fita com o poderoso e ele não gosta disso ou daquilo...

Bem, a ideia de finitude é inconcebível, nos causa angústia, depressão, então temos de criar o antídoto e esse é perfeito, não vai acabar, basta ser bonzinho e/ou se arrepender no final que você não acaba, tua vida não acaba e você é imortal. Que tal? Maravilha!
E onde está esse ser que interfere na vida das pessoas quando uma menina ou um bebê está sendo estuprada, torturada e morta? E câncer infantil, nos seus desígnios, pra quê? Para destruir uma família pela dor?
Eu realmente não me importo. Se ele existe, sabe o que faz, eu não conheço, ninguém conhece. Estamos a milhares de anos achando que conhecemos, mas ninguém sabe nada de nada. É só papo, conversa, não tem uma prova, nada! Não quero acreditar, quero saber!
Não se importar com a resposta pode ser difícil, sentir-se sozinho pode ser terrível, muitas culturas orientais sem um deus, evocam a figura dos antepassados, como uma espécie de divindade, porque é difícil se sentir sozinho.
Mas é libertador não seguir nem uma religião ou filosofia, ser livre para pensar e desenvolver sua própria história com suas próprias possibilidades. Agir sem ser cerceado e policiado pelas regras e baboseiras criadas a milhares de anos por pessoas que não tem nada a ver comigo.

Nesse momento me senti como o Neo de Matrix, tinha uma escolha, qual pílula queria engolir? a da conformação onde sigo a maioria sem pensar muito e me sinto bem, feliz e protegido ou a do conhecimento, da descoberta, de admitir que tudo é desconhecido e que o efeito placebo da humanidade já não funciona mais em mim?

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Lembranças

Um olhar para o passado tem sempre um quê de nostalgia.

A lembrança das situações vividas é legal, faz parte de nossa história e de certa forma a nossa história nos tornou o que somos hoje. O nosso percurso nos ensinou a fazer certo ou a errar menos, bom isso pelo menos para a maioria.
Mas este olhar carrega em si as limitações da época:
Lembro-me de minha estupidez em uma série de situações, decisões equivocadas ou precipitadas, seja pela inexperiência ou pela falta de conhecimento.
As limitações tecnológicas nos faziam engolir o lixo que a mídia insistia em promulgar de forma totalmente ditatorial e normalmente de péssimo gosto. Bons programas ou boa música eram exceções. Era difícil contestar as notícias que chegavam e engolíamos tudo com farinha, quem detinha o controle sobre os meios de comunicação, possuía um poder incomensurável.
Eu era bronco, vivia nas trevas.
A tecnologia mudou tudo!
Eu queria um rádio comunicador, mapas, cartas náuticas, acesso a todos os discos e filmes já produzidos. Eu queria ler livros específicos, dados técnicos de componentes eletrônicos, mecânicos, pneumáticos, como funciona um motor Wankel, uma usina nuclear, o interior de uma supernova, as batalhas do Vietnã, informação, informação, informação...
Sempre tive sede de saber.
Hoje tenho tudo, na palma da mão e é maravilhoso, isso torna o olhar para o passado mais melancólico.

Ou sou só eu?

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Kon Tiki às avessas

Crânios antigos pertencentes ao Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro foram analisados geneticamente e esta análise mostrou característica totalmente inesperada. Mostrou que o genoma apresenta traços de uma linhagem extinta de índios brasileiros chamados botocudos. Mas a surpresa veio quando ao verificar o DNA destes índios, os cientistas encontraram características genéticas de povos polinésios. 
Os botocudos habitavam regiões dos atuais Estados de Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais. Foram extintos no final do século 19. Sua população já começou a diminuir em função de conflitos com os portugueses, a quem não aceitavam se submeter.


 Botocudos

Então a opinião levantada pelo norueguês Thor Heyerdahl em seu delicioso livro Kon Tiki, no qual narra a aventura que viveu com o objetivo de provar a possibilidade de seu ponto de vista a respeito do povoamento da polinésia está correta?



A questão é a seguinte: Na década de 1940 Thor levantou a idéia de que os polinésios poderiam ser descendentes de americanos da região do Peru, que teriam navegado da América do Sul às ilhas polinésias em balsas rústicas de madeira. A elite intelectual da época rechaçou a idéia, afirmando que tal feito seria impossível. Então Thor agregou alguns companheiros, construiu uma jangada precária no Peru e partiu com sua trupe atravessando o Oceano Pacífico. Foi um feito extraordinário e provou, na época, que seu ponto de vista era viável.

Agora com esta evidência genética, volta a se pensar nesta conexão estranha e improvável, mas em um sentido inverso.






Kon Tiki no museu em Oslo





Percurso



Thor Heyerdahl

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Orson Scott Card


O gênero de ficção científica, embora de alta qualidade na literatura, costumava encontrar no cinema, com raríssimas exceções, adaptações medíocres e de baixo orçamento.
Com o desenvolvimento da computação gráfica, os filmes têm melhorado muito sua qualidade. Esta semana assisti a refilmagem de Total Recall (O Vingador do Futuro), baseado no conto We Can Remember It for You Wholesale (algo como: Podemos Recordar para Você, por um Preço Razoável), do excelente Philip K. Dick. Embora a primeira versão com o Schwarzenegger tenha rendido um Oscar, sempre achei o filme meio tosco e agora a história, que até mudou bastante, ficou bem mais dinâmica e interessante.
Mas este post é sobre outro autor extraordinário.
Orson Scott Card, ganhador dos prêmios Hugo e Nebula, é, inegavelmente, um dos maiores escritores de ficção científica de todos os tempos.
Com poucos títulos traduzidos para o português, nos resta apenas lamentar a falta de interesse das editoras com o segmento.
O jogo do exterminador (Ender’s Game) de 1985 é o primeiro livro da série A Saga de Ender. É genial inesperado e de leitura deliciosa. O segundo livro da série, O Orador dos Mortos (Speaker for the Dead) de 1986, tão genial quanto o primeiro, trás uma série de novidades surpreendentes. Não tem como não se apaixonar pela história, entrando com tanta profundidade na alma humana e com o fato inusitado da maior parte se passar em um planeta colonizado por brasileiros com forte tradição católica. O mais legal é ver a evolução do personagem principal, de criança impetuosa e sagaz a adulto sábio e prudente, em uma jornada pelo tempo e espaço

Agora o cinema está produzindo o primeiro livro desta série, promete ser muito bom, vamos aguardar. 

Ender's Game

Toda a obra do autor:

Série Worthing:

Capitol (1978)
Hot Sleep (1978)
The Worthing Chronicle (1983)
The Worthing Saga (1990)

Saga de Ender:

O Jogo do Exterminador (Ender´s Game) (1985)
Orador dos Mortos (Speaker for the Dead) (1986)
Xenocide! (1991)
Children of the Mind (1996)
A War of Gifts: An Ender Story (2007)
Ender in Exile (2008)

Série "Shadow":

Ender's Shadow (1999) - romance paralelo a Ender´s Game
Shadow of the Hegemon (2001)
Shadow Puppets (2002)
Shadow of the Giant (2005)
Shadows in Flight (inédito)

Outros:

Um Planeta Chamado Traição (A Planet named Treason) (1978)
O Segredo do Abismo (The Abyss)


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O fim do mundo poderia ser hoje

Toutatis o deus celta é também a denominação de um asteróide com 4,5km (4.5×2.4×1.9 km) e que passa em nossa órbita a cada 4 anos. Trata-se de um sujeito especialmente perigoso. É quase unanime a opinião especializada de que um impacto de um objeto com estas dimensões causaria o caos na terra, com grande probabilidade de nossa extinção, ou pelo menos da extinção de nossa civilização.

O asteróide passou hoje às 8h00 da manhã à distância da terra equivalente a 18 órbitas lunares. Em 2004 ele passou a 4 órbitas lunares, o que em se tratando de escala cósmica, é quase um fininho. A NASA calculou que Toutatis não esteve tão próximo desde 1353 e só estará de novo em 2562. Não é conhecido nenhum asteróide destas dimensões que se tenha aproximado tanto no passado. Viajando a mais de 11 km/s seu impacto causaria uma devastação comparável a que extinguiu os dinossauros, subsequentemente a terra ficaria coberta de poeira por vários anos, a penumbra decorrente deste efeito levaria a um inverno rigoroso por tempo suficiente para matar a maioria das plantas, animais e seres humanos que sobrevivessem ao impacto.
 
Mas já passou e o mundo não acabou!
 
 
 Reprodução

Imagens de radar

domingo, 14 de outubro de 2012

Limites do poder do estado, maconha e violência

O que é certo e o que é errado?

Liberdade de expressão é muito bom, imagino que a maioria concorda, pois esta é a base da democracia (o melhor entre os piores segundo Churchill). Mas ela é vista de formas diferentes em diferentes culturas. O Brasil vem dando passos importantes nesta direção, aparentemente convergindo para a idéia norte-americana, onde ela é defendida ao extremo. As pessoas podem sentir-se ofendidas ou violadas pela expressão do outro, mas se este for o caso, basta não dar bola, ignorar, vacinar seus filhos etc.

Contradizendo uma série de juízes no país, já faz mais de um ano que, por decisão unânime, o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a realização dos eventos chamados “marcha da maconha”. Ocasiões que reúnem manifestantes favoráveis à descriminalização da droga. No entendimento da suprema corte os direitos constitucionais de reunião e de livre expressão do pensamento suplantam a idéia arcaica da apologia às drogas.
Nada mais correto no meu entender. Não pode existir evolução do pensamento se o exercício do pensamento não pode ser praticado, se o questionamento de uma lei não pode ser expresso.
A constituição não impede manifestação de defesa à legalização de drogas, esta foi a conclusão do STF.
A marcha da maconha não é só a manifestação de um bando que quer a liberdade de fumar seu baseado. Ela questiona o modelo proibicionista e os efeitos que esse modelo produziu em termos de incremento da violência.
A lei seca nos Estados Unidos gerou uma máfia poderosa e da mesma forma a proibição das drogas gera crime organizado no mundo todo. O México e o Brasil são exemplos incontestáveis disso.
O presidente da Guatemala defendeu um novo caminho, por acreditar que os mercados globais destas substâncias não podem ser erradicados. Segundo ele, a sociedade não acredita que o álcool ou o tabaco possam ser retirados de circulação, “mas de alguma forma supomos ser uma medida correta no caso das drogas. A repressão não diminuiu o consumo, a produção evoluiu e o tráfico se espalhou”.
Recentemente o Uruguai estatizou a produção e distribuição da maconha em uma atitude ousada e polêmica.
Os burocratas não querem admitir, mas o mundo já perdeu a guerra contra as drogas.
Bruce Michael Bagley, Ph.D. em Ciência Política na Universidade da Califórnia e consultor sobre tráfico e segurança pública declarou: “A política antidrogas é um fracasso. As drogas estão mais baratas, mais puras e mais acessíveis do que nunca. E o consumo de drogas aumenta ao redor do mundo”.
O que disse a revista Superinteressante a respeito de drogas:
- Nicotina é uma droga mais letal que a maconha e vicia com mais facilidade que a heroína.
- Derivados alucinógenos da papoula existem a mais de 8.000 anos.
- Uma das razões para a proibição da maconha foi o lobby da indústria farmacêutica, cujos produtos concorriam com a erva.
- As drogas sintéticas, fabricadas em geral nos países ricos, são as que tiveram maior aumento de consumo nos últimos anos.

Por que estou postando tudo isso? Porque não quero que o meu suado dinheiro (convertido em impostos) seja usado no combate às drogas, também não quero que seja usado em cadeias entupidas de pequenos traficantes, onde estes aprenderão a ser bandidos de verdade. Se estou pagando por isso, quero que meu dinheiro seja bem usado, na defesa de minha vida, da minha família e de nossas propriedades.

domingo, 7 de outubro de 2012

Veículos do dia D

Em 6 de junho de 1944 os aliados invadiram a Normandia, região do noroeste da França, fortemente defendida em suas praias pelo fato de estarem voltadas para a Inglaterra. A "Fortaleza Européia" foi invadida numa operação sem precedentes. Um volume de navios, aviões e tropas impressionante até para os dias de hoje.
Para alcançar tal intento os aliados usaram todo tipo de veículo ou solução, muitos deles especialmente concebidos para a ocasião.
Foram usadas bóias gigantes envolvendo tanques, de forma frágil e susceptível a afundamento mediante qualquer ondulações ou marola um pouco maior. Foram construídas barcaças e transportes de tropa especificamente para esta operação.
Logo após a invasão das cabeças de praia foram montados portos artificiais previamente construídos.
A seguir fotos históricas que denotam o esforço de guerra:




LST descarrega um tanque Sherman.
 




 Vista dos portos artificiais montados logo após o dia D.





 
Tanque Sherman, pronto para "navegar" até as praias.
 














 Um caça-minas.
 

 P-47 usado também pelo Brasil. O livro Senta a pua narra a saga dos pilotos brasileiros.